O Grupo de Trabalho (GT) da Câmara dos Deputados que discute a reforma tributária concluiu duas semanas de audiências com discussões sobre o sistema brasileiro de impostos, coleta de experiências internacionais, divergências sobre a arrecadação de estados e municípios e também com um panorama: até o momento, os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) optaram por não fazer parte do processo.

Há um único bolsonarista “de carteirinha” que é membro do grupo de trabalho, o deputado Luiz Phelippe de Orleans e Bragança (PL-SP). Ele, no entanto, mal se manifestou nas audiências promovidas até o momento. Fez pouquíssimas intervenções e praticamente não interagiu com os convidados às reuniões e com os outros deputados. Também não apresentou, até o momento, nenhum requerimento para interferir nos rumos do GT, como fizeram grande parte de seus colegas de colegiado.

A presença formal de um único deputado do PL no GT pode servir como justificativa para a participação ínfima de bolsonaristas no grupo, mas o fato não explica o quadro por completo. Isso porque as audiências do GT são abertas ao público e parlamentares que não integram o colegiado também podem se manifestar. Os deputados Zé Neto (PT-BA) e Tarcísio Motta (PSOL-RJ), que não fazem parte do grupo de trabalho, estão entre os que já se expressaram nas sessões, mesmo sem integrar o GT.

Na reunião de terça-feira (14), o deputado Gilson Marques (Novo-SC), outro não-membro do grupo, criticou a formação do GT, e por dois motivos: ressaltou que o colegiado não tem nenhum representante da Região Sul do Brasil e que não há nenhum parlamentar de “ideologia liberal” no GT. Marques é de direita, embora não seja exatamente um bolsonarista, e na sua fala contestou medidas habitualmente defendidas por parlamentares da esquerda, como a taxação de grandes fortunas e de lucros e dividendos.

O GT tem conduzido suas sessões com relativo clima de harmonia. Deputados de partidos historicamente adversários, como Reginaldo Lopes (PT-MG) e Vitor Lippi (PSDB-SP), têm apresentado convergências sobre a necessidade de se mudar o sistema tributário atual e de compreender que um bom caminho para isso é a implantação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que substituiria outros cinco tributos estaduais e municipais. As principais vozes discordantes no GT são as dos membros do PSOL e a de Mauro Benevides (PDT-CE), que acima de tudo se mostra um grande cético em relação aos benefícios da reforma.

Enquanto isso, o PL, que apesar da derrota de Bolsonaro elegeu expressivas bancadas na Câmara e no Senado, permanece em silêncio no meio de um dos debates políticos mais importantes da história recente do Brasil. Goste-se ou não de Bolsonaro e do bolsonarismo, o que cabe relembrar é que se trata de uma corrente ideológica que conta com a simpatia de milhões de brasileiros, que se faz presente de forma expressiva na política institucional e que participará com destaque dos próximos processos políticos brasileiros. Seria positivo saber a opinião dos apoiadores do ex-presidente sobre um processo que promete revolucionar a economia nacional.