O que houve?

Membros da base do governo na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro demonstraram desarmonia com o governador Claudio Castro (PL) nas últimas semanas. O grupo chegou a ser chamado de “Cangaço Novo” pelo chefe do Executivo, por conta da pressão que estaria exercendo.

O pano de fundo para este cenário iniciou-se com o homicídio de três médicos na capital fluminense, no último dia 5 de outubro. Eles estavam na Barra da Tijuca para participar de um congresso, e um deles era irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP). A partir do ocorrido, foram relembrados outros casos de violência envolvendo parlamentares no estado, como a troca de tiros de Guilherme Delaroli (PL) com bandidos em Itaboraí e o sequestro de Lucinha (PSD), entre outros, em um cenário que culminaria no atentado das milícias aos ônibus na cidade do Rio.

Os episódios resultaram em pedidos para a instalação da CPI da Segurança, que funcionaria na Alerj e teria sustentação de signatários de todas as vertentes ideológicas da Casa, e com suposto apoio do próprio governador, apesar da pressão a ser exercida pelos trabalhos dos parlamentares sobre a sua política neste campo. Entre os possíveis encaminhamentos do colegiado, destacam-se uma eventual retomada da Secretaria de Estado de Segurança, extinta pelo ex-governador Wilson Witzel, ou ainda a criação da Secretaria de Polícia Militar.

Nestes entremeios, a situação entre base e governo na Assembleia já se mostrava estremecida, somado a uma discussão entre Rodrigo Amorim (PTB), Filippe Poubel (PL) e Alan Lopes (PL) e policiais e guardas municipais, durante ação da Prefeitura do Rio para organizar o trânsito de carros. O prefeito Eduardo Paes (PSD) recebeu os militares agredidos e pediu ação do diretor-geral da Polícia Federal, delegado Andrei Rodrigues, para investigar suposto abuso de autoridade por parte dos parlamentares.

Vale destacar que Paes e Amorim apresentam-se como pré-candidatos à disputa pela Prefeitura do Rio no próximo ano. Paes busca a reeleição, enquanto Amorim tentaria sua primeira experiência no comando da cidade.

Amorim convocou então à Alerj os secretários de Polícia Militar, Luiz Henrique Marinho Pires, e de Governo, Bernardo Rossi, para prestarem depoimento sobre o uso de reboques no estado no contexto da CPI da Desordem Urbana, que investiga operações de fiscalizações de veículos, o que intensificou o clima de cisão entre o parlamentar e o governador. O contexto resultou em mais de 50 exonerações por Claudio Castro a servidores indicados por Rodrigo Amorim a cargos do governo no DETRAN, na Secretaria de Trabalho, Segurança Presente e na Secretaria de Governo, o que pode ser lido como resposta do Executivo ao posicionamento crítico do deputado.

A referida CPI, que tem a participação de Amorim, não descarta uma convocação do próprio governador Claudio Castro para depor.

Desdobramentos

A partir das movimentações entre membros da base governista na Alerj, a fotografia das lideranças na Casa começa a ganhar novas possibilidades de definição. De acordo com informações dos bastidores, “a cabeça” de Rodrigo Amorim teria sido pedida por Claudio Castro. Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, cadeira tradicionalmente ocupada por aliados do governo, Amorim seria retirado do cargo por indicação da larga base de Castro na Assembleia. Sua vaga tem entre os nomes cotados para a posição os de Dr. Serginho (PL), líder do Governo e atual vice-presidente do colegiado, e Fred Pacheco (PMN).

Quanto a Amorim, a especulação é de que o União lance sua candidatura em 2024 para prefeito, em possível chapa com Talita Galhardo.

Antes dos ruídos entre Castro e Amorim, o deputado transitava bem pelo Partido Liberal, mesmo que já com “dois pés” no União Brasil. O presidente estadual do PL, deputado federal Altineu Cortes, o recebeu na sede da sigla recentemente em encontro organizado pelo deputado estadual Alan Lopes. Contudo, agora especula-se que o vereador Dr. Rogério Amorim, irmão de Rodrigo Amorim, fique sem legenda para disputar a reeleição à cadeira do parlamento municipal, diante do quadro. Ele hoje é filiado ao PL.

Rodrigo Bacellar, atual presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, pediu desfiliação do PL para migrar para o União Brasil, onde tomou a frente do diretório estadual ao lado de seu colega e aliado Marcio Canella. Bacellar aguarda crivo do Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ) para deixar a sigla sem nenhum ônus.

Para as eleições de 2024, o PL enfrenta impasse para selecionar um nome para a disputa da prefeitura municipal. O ex-ministro Braga Netto foi recentemente declarado inelegível. Com apoio da família Bolsonaro, o deputado federal Alexandre Ramagem ganha destaque como pré-candidato da sigla, em decisão acordada com o governador. Outros nomes do partido, como o senador Carlos Portinho e o deputado Federal Luiz Limam, também estão em voga para o pleito. Mas é sabido que prosperará a candidatura que o ex-presidente Jair Bolsonaro apoiar.

A direita carioca se posiciona de forma contundente para fazer frente à nova tentativa de reeleição por parte de Eduardo Paes.